O artesanato, a caça, a pesca, a agricultura de subsistência, incluindo o cultivo do cacau, fazem parte da cultura dos indígenas da etnia Asurini, que vivem na Terra Indígena Koatinemo, localizada nos municípios de Altamira e Senador José Porfírio, no sudoeste do Pará. Mas agora o grupo quer ampliar as possibilidades de geração de renda investindo na transformação do fruto colhido em suas terras em um chocolate. Batizado de Ita’Aka Akauwa, que significa Cacau (Akauwa) da Pedra (Ita) Rachada (Aka), o chocolate dos Asurini foi lançado no festival Chocolat Amazônia e Flor Pará 2024, que aconteceu em setembro no Hangar Centro de Convenções & Feiras da Amazônia, em Belém (PA).
O Ita’Aka Akauwa é de origem da região do Médio Xingu e fabricado a partir das amêndoas de cacau produzido sem o uso de agrotóxicos. Os Asurini lidam de forma tradicional no cultivo dos frutos que, depois de colhidos, são levados até a cidade de Medicilândia para serem transformados em chocolate na Cacauway, fábrica da Cooperativa Agroindustrial da Transamazônica (Coopatrans). O resultado é uma barra que possui 55% de cacau e pedaços crocantes de banana desidratada, trazendo uma textura suave e um toque adocicado.
O chocolate Asurini foi desenvolvido por meio de uma parceria entre a Associação Indígena Juakete do Rio Xingu, a Coopatrans, a Cacauway e a Norte Energia, concessionária da Usina Hidrelétrica Belo Monte por meio de seus projetos socioambientais e de sustentabilidade.
Um dos indígenas participantes do projeto, Tukura Asurini, comemora a oportunidade de lançar um chocolate com sabor e características que represente seu povo. “Eu e a comunidade nos sentimos felizes em ver nosso trabalho sendo valorizado. Antes da ideia de fazer o chocolate, nosso trabalho com o cacau não era reconhecido, agora as pessoas vão ver nosso chocolate, vai ser um chocolate da aldeia. Foram grandes desafios para chegar até esse momento e esse projeto vai trazer renda para ajudar nosso povo”, explica.
A embalagem do chocolate carrega as tradições e saberes dos indígenas, que escolheram a Tavyva - casa comunal do povo Asurini do Xingu - como símbolo do Ita’Aka Akauwa. A estrutura arquitetônica é um espaço de vivência onde a etnia acredita que os anciões guardam os segredos que são transmitidos aos mais jovens.
Tukura destaca ainda que por meio do chocolate, a cultura Asurini vai ser vista e conhecida pelas pessoas. “Nossa arte está como marca e vai abrir outras oportunidades para quem sabe a gente pensar em outros projetos que ajude a nossa comunidade”, finaliza.
O Ita’Aka Akauwa é o quinto chocolate indígena do Xingu desenvolvido com apoio de Norte Energia, Coopatrans e Cacauway. Os chocolates Karaum Paru, Yudjá, Iawá e Sidjä Wahiü já estão disponíveis no mercado e o objetivo é incentivar o empreendedorismo indígena e a geração de renda nas comunidades da região, além de levar em cada pedaço de chocolate composições e saberes dos povos originários, bem como, a preservação da natureza e da biodiversidade.
“Nosso objetivo é construir um legado positivo e contribuir para o desenvolvimento socioeconômico dos territórios onde a Usina está instalada. É muito importante incentivar a valorização da cultura indígena, a geração de renda, o empreendedorismo sustentável, dialogar com as comunidades na elaboração das identidades visuais, agregar valor nas vendas e trazer desenvolvimento com foco na qualidade de vida da população e na proteção ambiental da bacia do rio Xingu”, explica Thomás Sottili, gerente de Projetos de Sustentabilidade da Norte Energia.
Os chocolates indígenas
Sídja Wahiü – O cacau e as frutas desidratadas usadas na receita do Sídja Wahiü, que significa “mulher forte”, são cultivadas por quatro famílias indígenas ribeirinhas da comunidade Jericoá 2, na Volta Grande do Xingu. O chocolate 72% de cacau e equilibra as notas frutadas das amêndoas com pedaços finos de abacaxi, banana e pitaia.
Iawá – Esse chocolate leva o mesmo nome da comunidade da Volta Grande do Xingu, que cultiva o cacau, uma homenagem à matriarca: Dona Odete Iawá Kuruaya, que representa a resistência de sua cultura. As amêndoas usadas na receita são produzidas por 17 famílias indígenas ribeirinhas e passam por um alto grau de fermentação. O chocolate é ao leite e contém 54% de cacau.
Karaum Paru – As quatro aldeias da Terra Indígena Arara da Volta Grande do Xingu (Terrawangã, Guary-Duan, Itkoum e Maricá), no Pará, abrigam cerca de 78 famílias que cultivam as amêndoas usadas no Karaum Paru. O chocolate é leve, com 53% de cacau, contém cupuaçu desidratado, equilibrando a acidez típica da fruta amazônica com o doce do chocolate ao leite, o que resulta em um sabor único.
Yudjá – As seis aldeias da Terra Indígena Paquiçamba (Mïratu, Iya -Pukaká, Lakariká, Pupekuri, Jaguá, além da Paquiçamba), no Pará, abrigam aproximadamente 92 famílias que cultivam, de maneira integrada com a floresta, as amêndoas do Yudjá. O chocolate, feito com manteiga de cupuaçu, tem 63% de cacau e leva mangarataia, um gengibre cultivado na Amazônia, que traz um toque forte e apimentado, realçando o sabor intenso desse delicioso alimento.
Ita’Aka Akauwa – A Terra Indígena (TI) Koatinemo abriga famílias que cultivam as amêndoas e frutas desidratadas do Ita’Aka Akauwa, que significa Pedra Rachada. O chocolate tem 55% de cacau e leva pedaços crocantes de banana desidratada, que trazem uma textura irresistível e um toque adocicado à barra, criando uma experiência única a cada mordida.
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